Um desfile inesquecível! Assim, sucintamente, posso descrever o que foi a apresentação do Salgueiro que, hoje, 22 de fevereiro de 2013, completa 20 anos.
A alvirrubra da Tijuca naquela ocasião não vencia um carnaval há 18 anos - seu último título fora em 1975, ainda com Joãosinho Trinta, com o enredo "O segredo das minas do rei Salomão". Havia uma expectativa muito grande para o desfile de 1993 por conta do samba que foi um dos mais tocados na temporada pré-carnavalesca.
No desfile de domingo, que foi realizado quase todo debaixo de chuva, os destaques haviam sido a Vila Isabel, com samba de Martinho da Vila, e a Mocidade que trouxe um enredo sobre jogos e abusou da tecnologia. Na noite de segunda feira, desfilariam a Grande Rio (campeã do Grupo A em 1992), seguida pela Caprichosos de Pilares, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Estácio (que defendia o título), Beija Flor e Mangueira.
Quando o Salgueiro entrou na Sapucaí, foi de uma garra e entusiasmo impressionantes. O público aclamava a passagem da escola e cantava o samba a plenos pulmões, como jamais visto no Sambódromo.
O enredo da escola, do carnavalesco Mario Borrielo, era inspirado em uma canção de Dorival Caymmi e mostrava a viagem do navio Ita desde Belém do Pará até o Rio de Janeiro trazendo os sonhos dos migrantes por uma vida melhor. Começou o desfile com o Círio de Nazaré, em Belém, passando pelo Nordeste, representado nas alegorias: os azulejos de São Luis do Maranhão, as areias do Rio Grande do Norte, a cultura pernambucana (frevo e maracatu), a culinária baiana (as baianas obviamente vieram neste setor, todas de branco), até chegar em pleno carnaval carioca. As alegorias não tinham muitas inovações estéticas mas eram bem acabadas e contavam muito bem o enredo. Alguns sustos como a queda da porta bandeira Taninha em frente a cabine dos jurados e a correria ao final do desfile por conta do excessivo número de componentes (cerca de 5.500) não desanimaram o público, que aclamava a escola como campeã. Felizmente a escola terminou o desfile dentro do tempo, apesar de uma certa preocupação nos momentos finais. E o Salgueiro se credenciou ao título que buscava há muito tempo. Após sua passagem, ficou praticamente impossível superar toda a emoção e euforia daquela apresentação.
Lembro de ter visto pela TV e ficar muito emocionado no final. A partir de determinado momento, os narradores se mostravam preocupados com o tempo de desfile. A tensão deu lugar a alegria e a felicidade que explodiu não só no Sambódromo.
"Explode coração na maior felicidade, é lindo meu Salgueiro contagiando e sacudindo esta cidade"
O Salgueiro se sagrou campeão, 2,5 pontos a frente da segunda colocada Imperatriz Leopoldinense, além de ter ganho quatro Estandartes de Ouro (escola, enredo, bateria e ala das crianças). Pela primeira vez, eu via a minha escola campeã!
Após esse carnaval, o Salgueiro ficou sem vencer por mais 16 anos. Seu último título foi em 2009, com "Tambor". Entre 1993 e 2009, a escola esteve por muitas vezes fora do desfile das campeãs mas também fez desfiles muito elogiados. O carnavalesco Renato Lage estreou na escola em 2003 com um enredo sobre os 50 anos da escola. Estava previsto um desfile eufórico por conta do samba que remetia ao título de dez anos antes mas a perda de 8 décimos por conta do estouro do tempo de desfile acabou descredenciando a escola à disputa do título daquele ano. Renato continua na escola e já teve seu contrato renovado para 2014.