1982 foi um ano diferente para o desfile das escolas de samba. Segundo o regulamento, as escolas estavam proibidas de colocar figuras vivas em suas alegorias. O desfile foi realizado na Marquês de Sapucaí, ainda com arquibancadas desmontáveis, no domingo 21 de fevereiro e contemplou 12 escolas. Foi aberto pela Unidos de Vila Isabel, penúltima colocada em 1981 - houve uma confusão tão grande na pista que foi decidido que nenhuma escola seria rebaixada. Em seguida, passaram Unidos de São Carlos (campeã do grupo 1-B), União da Ilha (com seu maravilhoso "É hoje"), Mangueira, Salgueiro, Beija Flor, Unidos da Tijuca, Portela, Mocidade, Imperatriz (que defendia o título), Império da Tijuca e o Império Serrano, que entrou na pista já quase ao meio-dia de segunda-feira, sob um sol escaldante.
A Imperatriz trouxe luxo e riqueza jamais vistos para disputar o tricampeonato, com um enredo de Arlindo Rodrigues. Porém, assim como a Beija Flor, infringiu o regulamento ao trazer destaques nas alegorias: ambas perderam seis pontos. O mais curioso é o fato destas escolas terem optado por não respeitar as regras. Talvez possam ter imaginado que não seriam punidas... Enfim, de qualquer forma, abriram caminho para o último campeonato da verde e branco da Serrinha, que havia ficado em último lugar em 1981. Foi um desfile impecável, uma verdadeira crítica ao gigantismo das escolas e uma ode ao samba de verdade e ao carnaval de antigamente, com um enredo das carnavalescas Rosa Magalhães (atualmente na Vila Isabel) e Lícia Lacerda. O nome original do enredo seria "Praça XI, Candelária e Sapecaí", proposto originalmente por Fernando Pamplona, mas as carnavalescas preferiram a onomatopeia - registro do som do surdo - que acabou dando sorte à escola. Ao lembrar momentos marcantes do carnaval de outrora, nos outros cenários anteriores à Sapucaí - como a passagem do minueto do Salgueiro, no enredo "Xica da Silva" (1963) e da escultura de Iemanjá que abriu o desfile "Bahia de todos os deuses", também do Salgueiro (1969) - a escola aproveitou para criticar a supremacia de escolas que abusavam do luxo e de alegorias suntuosas em detrimento ao samba. Um dos carros trouxe esculturas de Joãosinho Trinta e do bicheiro Aniz Abraão David, então, respectivamente, carnavalesco e patrono da Beija-Flor. Vale ressaltar que, no período compreendido entre 1976 e 1981, somente ganharam escolas que eram comandadas por bicheiros.
Como resumir o desfile campeão de 1982? Antológico, inesquecível, a essência do samba na sua forma mais simples. O samba maravilhoso, de autoria de Aluizio Machado e Beto Sem Braço, conquistou o público que vibrou com sua passagem. Um merecido campeonato, acompanhado de seis Estandartes de Ouro: comunicação com o público, samba-enredo, bateria, enredo, personalidade masculina (Jamil Cheiroso) e revelação (Andreia).
"Superescolas de samba S/A, super alegorias, escondendo gente bamba, que covardia..."
O Império assim conquistava seu nono e último título no Grupo Especial. A escola ainda teve algumas glórias na década de 1980, mas acabou rebaixada em 1991, com um desfile bastante criticado sobre os caminhoneiros. Após alguns anos no grupo de acesso, retornou em 1994, sendo rebaixada mais uma vez em 1997, ao homenagear Beto Carrero. Voltou em 1999, quando trouxe um enredo sobre a Rua 46, de Nova York, mas novamente foi rebaixada. Em 2001 retornou ficando até 2007. Uma nova participação no Grupo Especial em 2009, ao reeditar o desfile de 1976, "A lenda das sereiras, rainhas do mar" que injustamente deu o último lugar à escola. Atualmente, está na Série A (nova designação do grupo de acesso), em uma acirrada disputa com mais 18 escolas por uma vaga no Grupo Especial em 2014.
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