terça-feira, 22 de janeiro de 2013

1969 - Salgueiro - "Bahia de todos os deuses"

Só tenho uma frase para iniciar este post... "eu gostaria muito de ter visto este desfile".





Fevereiro de 1969. Em plena ditadura militar, apenas alguns meses após o decreto do Ato Institucional 5 (AI-5) que deu início ao período mais turbulento da História recente do Brasil, chegava mais um carnaval. As escolas de samba se preparavam para apresentar mais um espetáculo e, naquela ocasião, o cenário era a Avenida Presidente Vargas, tendo início na Candelária. Dez escolas de samba se apresentariam no domingo 16 de fevereiro. Naquela época, o desfile era realizado em apenas um dia e, por vezes, terminava após o meio-dia de segunda feira, em uma verdadeira maratona.
O ano trouxe obras-primas memoráveis como "Heróis da Liberdade", que Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira compuseram para o Império Serrano; "Yayá do cais dourado", de Martinho da Vila, da Unidos de Vila Isabel; "Brasil, flor amorosa de três raças", da Imperatriz Leopoldinense; e, claro, o samba que dá título ao post.
Samba clássico do Salgueiro, que deu o quarto título à escola, de autoria de Bala e Manuel Rosa, que canta as belezas da Bahia, focando na religiosidade latente naquela terra. No desfile, ele foi cantado por Elza Soares com sua voz marcante.
A escola iniciou seu desfile próximo ao meio-dia, um calor forte como de costume no verão do Rio de Janeiro. O inesquecível abre-alas trouxe uma Iemanjá de cerca de 3 metros de altura (foto acima), feita em papel-machê e gotas de espelho que formaram uma cascata de luz que refletia o forte sol daquela manhã. Um momento único, que teve poucos registros de imagem. A escola finalizou o desfile de 1969 levantando o público e consagrando os carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Mais um título para a Academia do Samba!

Bahia, os meus olhos estão brilhando
Meu coração palpitando
De tanta felicidade
És a rainha da beleza universal
Minha querida Bahia
Muito antes do Império
Foste a primeira capital
Preto Velho Benedito já dizia
Felicidade também mora na Bahia
Tua história, tua glória
Teu nome é tradição
Bahia do velho mercado
Subida da Conceição
És tão rica em minerais
Tens cacau, tens carnaúba
Famoso jacarandá
Terra abençoada pelos deuses
E o petróleo a jorrar
Nega baiana
Tabuleiro de quindim
Todo dia ela está
Na igreja da Bonfim, oi
Na ladeira tem, tem capoeira

Zum, zum, zum
Zum, zum, zum
Capoeira mata um! (bis)


Em tempo: Antes, o Salgueiro havia sido campeão em 1960 ("Quilombo dos Palmares"), dividindo o título com outras quatro escolas: Portela, Mangueira, Unidos da Capela e Império Serrano; em 1963 ("Chica da Silva") e em 1965 ("História do carnaval carioca").

Comecei o post falando que gostaria de ter visto este desfile, assim como tantos outros dos anos 1960, 1970 e 1980.
De certa forma, tive a oportunidade de ver a Tradição reeditando este samba no Grupo de Acesso em 2006 e me emocionei quando a última alegoria trouxe a bandeira do Salgueiro, prestando uma merecida homenagem.

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